terça-feira, 19 de novembro de 2013

Bruxas - Mensagens

A CANÇÃO DA BRUXA
"Que eu seja como aquela que tece o pano na floresta,
profundamente escondida. 
Que eu possa fazer o meu trabalho sem interrupção.
Que eu seja uma exilada, se é este o sacrifício.
Que eu conheça a procissão sazonada do meu espírito
e do meu corpo, e possa celebrar
os quartos em cruz, solstícios e equinócios. 
Que cada Lua Cheia me encontre a olhar para cima,
nas árvores desenhadas no céu luminoso. 
Que eu possa acariciar flores selvagens,
cobri-las com as mãos. 
Que eu possa libertá-las, sem apanhar nenhuma,
para viver em abundância. 
Que meus amigos sejam da espécie que ama o silêncio.
Que sejamos inocentes e despretensiosos.
Que eu seja capaz de gratidão.
Que eu saiba ter recebido a alegria, como o leite materno.
Que eu saiba isso como o meu cão, nos ossos e no sangue.
Que eu fale a verdade sobre a alegria e a dor,
em canções que soem como aroma do alecrim,
como todo dia e na antiguidade, erva forte de cozinha. 
Que eu não me incline à auto-integridade e à auto- piedade.
Que eu possa me aproximar dos altos trabalhos da terra
e dos círculos de pedra, como raposa ou mariposa,
e não perturbar o lugar mais que isso. 
Que meu olhar seja direto e minha mão firme.
Que minha porta se abra àqueles que habitam fora da riqueza,
da fama e do privilégio. 
Que os que jamais andaram descalços
não encontrem o caminho que chega à minha porta. 
Que se percam na jornada labiríntica.
Que eles voltem.
Que eu me sente ao lado do fogo no inverno
e veja as achas brilhando para o que vier,
e nunca tenha necessidade de advertir
ou aconselhar, sem que me peçam. 
Que eu possa ter um simples banco de madeira,
com verdadeiro regozijo. 
Que o lugar onde habito seja como uma floresta.
Que haja caminhos e veredas para as cavernas
e poços e árvores e flores, animais e pássaros,
todos conhecidos e por mim reverenciados com amor. 
Que minha existência
mude o mundo
não mais nem menos do que o soprar do vento,
ou o orgulhoso crescer das árvores. 
Por isso, eu jogo fora minha roupa.
Que eu possa
conservar a fé, sempre. 
Que jamais encontre desculpas para o oportunismo.
Que eu saiba que não tenho opção,
e assim mesmo escolha como a cantiga é feita,
em alegria e com amor. 
Que eu faça a mesma escolha todos os dias, e de novo.
Quando falhar, que eu
me conceda o perdão. 
Que eu dance nua, sem medo
de enfrentar meu próprio reflexo...”
-Poesia extraída do livro, A Bruxa Solitária, Rae Beth-